Minha Luta com o Burnout

Edição Especial

Era uma bela tarde de sábado.

Tudo estava realmente lindo!

De repente, meu coração acelerou, como se estivesse pulado para uma velocidade máxima. Minha respiração ficou difícil, o ar parecia escasso. Uma dor pulsante no peito.

Corri para a internet em busca de explicações: distúrbio mental, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico…

Quanto mais eu lia, mais o medo aumentava! A sensação de um ataque cardíaco prestes a acontecer me dominava.

"Como vou conseguir sair dessa?"

Eu estava angustiado, sem saber qual caminho seguir.

E se eu estivesse doente?

E se eu vomitasse?

Deveria ir ao hospital?

E se me aplicassem uma injeção?

Seria esse o meu fim?

Minha mente foi tomada por uma onda de pensamentos negativos incontroláveis.

Tentei resistir e afastá-los, mas era em vão.

Quanto mais lutava, mais intensos eles se tornavam.

Deitei-me na cama, fechei os olhos.
Respirei fundo.
Aos poucos, os batimentos desaceleraram.
Depois de uma hora, o sono finalmente veio.

Acordei melhor, mas ainda muito agitado.

Aos 33 anos de idade, após 16 anos de fuga, no ano de 2001, decidi iniciar a jornada que mudaria profundamente minha vida, para sempre.

Deixei tudo, mudei de Cidade, com a bênção de Deus, com a cara e a coragem, a companhia da minha Família e o apoio de alguns poucos amigos, lá fui eu me aventurar na Cidade do Rio de Janeiro, me preparar para o Ministério pastoral.

Os primeiros dias foram muito difíceis pra nós. Uma Cidade desconhecida, uma estrutura precária, muitas privações, mas o Deus de toda graça, logo foi colocando pessoas especiais na nossa vida.

Dois meses depois, uma única oportunidade de trabalho. O desafio de plantar uma Igreja, enquanto estudava e criava minha filha de 3 anos, tudo simultaneamente.

Era uma missão que exigia dedicação absoluta, mas também acumulava responsabilidades de forma inevitável. Eu parecia não suportar, mas suportei.

Dez anos depois, os primeiros sinais de sobrecarga, começaram a aparecer: cansaço constante, noites mal dormidas e uma sensação de estar sempre correndo contra o tempo.

No entanto, como é comum a muitos pastores, ignorei todos esses avisos. Porque um Pastor é sempre tão bom quanto o seu último resultado. Temos que produzir, felizes.

Eu acreditava que estava tudo sob controle, porque deveria suportar tudo, que era parte do meu chamado, resiliente. É o conceito comum de um bom Pastor.

Com o passar do tempo, a pressão aumentou, e comecei a perceber mudanças em mim mesmo. Situações normais, que antes passavam despercebidas, começaram a me irritar profundamente.

Qualquer pequeno problema parecia um desafio enorme, e o estresse tomou conta do meu dia a dia. Sentia muitas dores de cabeça, enjoos constantes e dores no peito, que desciam para o braço esquerdo. A sensação era de um enfarto.

Fui ver o Cardiologista, fiz exames e de acordo com os diagnósticos, estava tudo bem.

Segui em frente. Trabalhando, estudando, cuidando da família normalmente.

Mudei de trabalho, de cidade, tudo novo, de novo.

Eis que anos depois, novamente a mesma história se repetindo, só que com mais intensidade.

O ponto de ruptura veio de forma inesperada e avassaladora. Primeiro, o falecimento da minha mãe, que me deixou emocionalmente fragilizado, um mês antes dos meus 50 anos.

Meses depois, enfrentei na minha visão particular, além de problemas outros, uma sensação devastadora de desrespeito e desvalorização. A notícia foi um choque daqueles.

E esse último, ocorreu na véspera em que comemoraríamos nossas bodas de prata. Não preciso dizer que nossa comemoração foi eu deitado na cama chorando e ela ao meu lado, tentando me confortar.

Isso porque sem um centavo para passear e fazer uma bela comemoração, combinamos que daríamos um volta, nos mesmos lugares da cidade que havíamos passado há 25 anos atrás, porque estávamos de volta, à mesma cidade de antes. E o almoço, o jantar e também e o lanche da tarde, seriam todos em casa, é óbvio.

Esses eventos juntos foram a gota d’água. O chamado “gatilho”. Perdi completamente o controle das minhas emoções. Tinha que fazer alguma coisa para evitar o pior.

E a decisão drástica que tomei foi deixar tudo – um gesto de desespero, mas também de busca por alívio imediato de uma dor que eu já não sabia mais como administrar.

Ladeado pelo apoio incondicional das duas mulheres especiais da minha vida, sempre comigo o tempo todo, seguimos em frente.

A partir daí, minha vida entrou em colapso. Tornei-me uma pessoa amarga, impaciente, infeliz, entristecida e completamente desconectada de mim mesmo. Já não me reconhecia mais. Minhas atitudes eram estranhas a mim mesmo.

Chorava copiosamente em qualquer lugar, fiquei sem o menor controle sobre as lágrimas. Não tinha energia para trabalhar nem para fazer coisas que antes me traziam alegria e prazer.

Pior ainda, sentia uma vontade constante de fugir, de sair andando sem rumo, para um lugar que ninguém falasse comigo, como se isso fosse aliviar meu sofrimento.

Conversar com as pessoas era um desafio quase impossível – tudo parecia um ataque, era como se todos gritassem comigo e me culpassem o tempo todo, por aquilo que eu estava vivendo. Eu estava em um sofrimento sem fim e, não sabia o que fazer.

Queria sair daquela situação, mas era como se meus dois pés estivessem firmemente amarrados a uma árvore gigante, me impedindo de prosseguir.

Algumas pessoas mais próximas, temiam que eu tentasse suicídio. Eu não atentaria contra minha própria vida. Nunca tive esse pensamento, porque além de amar muito a vida, para isso é necessário ter coragem e, não sou assim, mas tinha uma certeza que era absoluta. Sabia que iria morrer.

Organizei toda minha documentação, contratei uma boa apólice de seguros, porque a igreja não tem responsabilidade com a viúva de um pastor. Escrevi todas as minhas senhas e comecei a esperar o pior, que certamente, iria acontecer.

Fiz tudo isso muito discretamente, porque não queria preocupar minhas Garotas. Em casa e no trabalho, eu fazia um personagem. E todos achavam que estava tudo bem, mas lá dentro, eu estava todo arrebentado.

Foi então que uma conversa que eu não queria ter, com a insistente dona Zilda Esteves, uma Mulher de Deus, que possui todos os predicados para ser uma diaconisa, a quem serei para sempre grato, se tornou o meu ponto de virada.

Ela foi minha primeira e, talvez, única oportunidade de enxergar uma saída importante e possível naquele momento.

Ela me convenceu da necessidade de buscar ajuda, contratou os profissionais e levantou patrocínio para custear toda a despesa de um tratamento intensivo e caro em outro Estado.

Foi por causa dela que decidi procurar ajuda. Iniciei os primeiros testes para o começo do tratamento. Três dias depois, o diagnóstico: Burnout em fase aguda.

Burnout é um estado de exaustão extrema – física, mental e emocional – causado pelo estresse crônico no trabalho ou em outras áreas da vida. Ele acontece quando alguém se sente sobrecarregado, emocionalmente drenado e incapaz de atender às demandas constantes.

Entre outros, os principais sintomas do Burnout são:

Fadiga extrema – sensação de cansaço constante, mesmo após descanso.
Despersonalização – afastamento emocional, cinismo e perda de empatia.
Baixa realização pessoal – sensação de ineficácia e falta de propósito no trabalho.

Algumas das causas mais comuns são:

🔹 Excesso de trabalho e carga horária intensa.
🔹 Pressão constante por produtividade e resultados.
🔹 Falta de reconhecimento ou apoio no ambiente profissional.
🔹 Dificuldade em equilibrar vida pessoal e profissional.

Os Profissionais ao me entregarem o diagnóstico, me disseram. Você está com o pé em uma profunda depressão. Foi por muito pouco. Iniciamos o tratamento.

Minha recuperação se baseou em um tripé essencial: terapia, atendimento pastoral e apoio da família e de novos amigos, que me acolheram com muita generosidade.

Essas três ferramentas juntas, formaram a base concreta da bênção de Deus, para eu me reerguer, passo a passo, e começar a reencontrar o equilíbrio.

A Terapeuta foi muito top. O Pastor foi maravilhoso. Embora há mais de 50 anos na Igreja, nunca havia passado por atendimento pastoral. Amei.

E os meus novos Amigos. Ah! Esses são para toda vida. Que bom estar perto de pessoas que se importam comigo, que vibram com minhas conquistas e que querem saber como está meu coração, todo dia!

No meio de tudo isso ainda teve a pandemia, mas embora a COVID-19 tenha me visitado por duas vezes, foi um tempo especial, quando pudemos ficar os três juntos, por meses. Consegui aproveitar isso em meu favor.

Hoje, ao olhar para trás, vejo que essa experiência me trouxe lições valiosas: Aprendi que não sou o herói de ninguém, que não posso ignorar os sinais que meu corpo me dá e que preciso respeitar meu limite e meu tempo de descanso.

Hoje, sei que cuidar de mim mesmo é uma prioridade – não apenas para mim, mas para que eu consiga continuar ajudando os outros.

Estou consciente de que além do trabalho, preciso de tempo para estar em família, com os meus amigos, praticar exercícios físicos, visitar o médico regularmente, cuidar da alimentação e, administrar bem, muito bem as pressões a título de aborrecimentos, se forem inevitáveis.

Cinco anos após minha vitória, resolvi contar essa história, para testemunhar o que a graça de Deus fez em minha vida e, porque penso que pode haver alguém em algum lugar, vivendo o que vivi, e por isso precisa ser encorajado a procurar ajuda enquanto é tempo.

Se você está vivendo com os sintomas do Burnout, quero te dizer algo importante: você não precisa carregar esse peso sozinho, portanto tempo. Não faça como eu.

Eu sei que pode parecer que ninguém entende o que você está sentindo, que sua mente está cansada e que seu corpo já não responde como antes.

Mas, por mais difícil que seja, escute os sinais que seu corpo e sua alma estão lhe dando. O esgotamento não é fraqueza, nem falta de fé ou de esforço – é um alerta de que você precisa se cuidar. Essa é uma doença como qualquer outra.

Peça ajuda. Converse com alguém de sua confiança, procure um profissional, permita-se desacelerar. Sua saúde mental vale mais do que qualquer responsabilidade que você carrega.

E, acima de tudo, lembre-se: você não é de ferro, e tudo bem precisar de descanso. 

Isso é muito sério, uma vez que se não tratado, o Burnout pode levar a problemas de saúde como depressão, ansiedade e doenças físicas, incalculáveis.

O tratamento envolve descanso, mudanças no estilo de vida, apoio psicológico e, em alguns casos, medicação, afastamento do ambiente estressante e muita oração.

Fique sempre atento.

Com carinho,

Eliseu Alves

Editor do Poder Cotidiano

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